REFORMADORES DO CATOLICISMO NACIONAL



    Antecedentes históricos do catolicismo nacional





Após a Independência do Brasil, em 1822, surgem as primeiras idéias de uma reforma católica no Brasil, propondo a institucionalização de uma igreja católica nacional. Primeiramente, durante a "Confederación do Equador" (1824), o revolucionário Frei Caneca fez uma proposta sobre o assunto. Mas, foi foi no período da Regência que esta discussão se apresentou mais claramente, com duas tendências bem distintas.
A primeira, com o Padre Antônio Feijó na liderança de boa parte do clero paulista entre 1826 e 1842, período de sua vida como deputado de São Paulo (1826), ministro da Justiça (1831), senador do Rio de Janeiro (1833) e, finalmente, regente (1835-1837). Defendia Feijó a criação de uma Igreja brasileira, desatrelada de Roma e tendo como centro de comando um Concílio Nacional.


Para Feijó, dois problemas básicos precisavam ser resolvidos dentro do Catolicismo. Um dizia respeito ao já famoso “clero amasiado”, pois ainda corria o tempo em que “ter filhos naturais era então a coisa mais natural deste mundo. Sem exceção para os padres.

Assim, apoiava pragmaticamente a supressão do celibato, tendo Feijó, inclusive, em 1827, lançado o folheto intitulado – Demonstração da necessidade da abolição clerical pela Assembléia Geral do Brasil, e da sua verdadeira e legítima competência nesta matéria.

A questão do celibato clerical reporta-se ao Concílio de Elvira, em 305, válido somente para a Espanha; mas, em 386, o papa Sirício (384-399) estendeu-o a toda Igreja do Ocidente, posto que sem preocupações e liames familiares, podiam os clérigos atender melhor à própria perfeição e às obras do apostolado.

A outra vertente, além de Padre Antonio Feijó, era dirigida por Dom Romualdo Antônio de Seixas, arcebispo metropolitano da Bahia e primaz do Brasil desde 1826, ano esse em que, como Feijó, entra para a Câmara dos Deputados. D. Romualdo propunha a formação de um clero observante do celibato, subordinado a Roma e independente do governo em assuntos espirituais. A questão, no entanto, ganhava contornos consuetudinários por parte da sociedade, pois “se criava uma espécie de consciência comum de que o sacerdote podia, sem quebrar os seus compromissos, na perspectiva jurídica, viver como os leigos católicos na sociedade, incluindo mesmo o costume de constituir família.

Foi no ano de 1827 que se assistiu ao primeiro momento do processo de reformismo, por meio da proposta de Antônio Ferreira França, deputado pela Bahia, que propunha, em 3 de setembro, que o clero fosse casado e que os frades e as freiras não existissem em terras brasileiras.Esta proposta desencadeou uma verdadeira revolta nas gavetas dos gabinetes imperiais, nas igrejas, na imprensa e nas camadas mais cultas da sociedade da época.


É possível imaginar-se que, decerto, por parte da Igreja não era esse o caminho a ser trilhado para o início de uma discussão, mas a atitude intempestiva de Ferreira França possibilitou trazer a lume uma questão há muito discutida de forma velada, clarificando destarte o estado de coisas entre o Império e a própria Igreja Católica Romana.

Dividiam-se as tendências entre os que eram a favor da supressão do celibato, tais como o Padre Diogo Antônio Feijó, Amaral Gurgel, Ildefonso Xavier Ferreira, Marcelino Ferreira Bueno, dentre outros, e os que eram contra, como Dom Romualdo Antônio de Seixas, Dom Marcos de Souza, Padre Luís Gonçalves dos Santos (o famoso padre Perereca) e o Visconde de Cairu.

A resposta de Feijó em relação à proposta de Ferreira França vem a 10 de outubro de 1827 no seguinte parecer à Câmara, dando clara posição de suas intenções, bem como propondo ameaças ao papa:


“primeiro, que autorize ao Governo para obter de Sua Santidade a revogação das penas espirituais ao clérigo que se casa; fazendo saber ao mesmo Santíssimo Padre a necessidade de praticar, visto que a assembléia não pode deixar de revogar a lei do celibato; segundo, que o mesmo governo marque ao nosso plenipotenciário prazo certo, e só o suficiente, em que deve definitivamente receber da Santa Sé o deferimento dessa súplica; terceiro, que no caso da Santa Sé recusar-se ao requerido, o mesmo plenipotenciário declare a Sua Santidade mui clara, e positivamente, que a assembléia geral não derrogará a lei do celibato, mas suspenderá o beneplácito de todas as leis eclesiásticas disciplinares que estiverem em oposição aos seus decretos; e que o governo fará manter a tranqüilidade e o sossego público por todos os meios que estiverem ao seu alcance. Apresento também como proposta a separação da Igreja brasileira da Igreja romana.” (DORNAS FILHO, João. O Padroado e a Igreja Brasileira. São Paulo: Nacional, 1938)

Infelizmente, devido à pressão do Vaticano, esta idéia ficou naquele momento apenas no papel e nos debates. Mas não foi apagada totalmente.

Coube ao Cônego Amorim retomar esta idéia. Designado para exercer atividades sacerdotais em Itapira, São Paulo, conseguiu no pouco tempo de sua vida sacerdotal reunir logo seu rebanho passando a ser estimado por todos. Todavia, após a descoberta de que convivia maritalmente com uma paroquiana, Dona Cantídia Menezes dos Santos, fez com que recebesse a punição de seu bispo Dom Nery através de uma carta de seu próprio punho datada de Outubro de 1912, comunicando ao padre Amorim a cessação de sua jurisdição em Itapira e que deveria entregar a direção da Paróquia ao sacerdote que fosse nomeado.
Cônego Amorim

Em 31 de dezembro desse mesmo ano é nomeado o cônego Oscar Sampaio para substituir o cônego Amorim.O substituto toma posse da Igreja Matriz de N. S. da Penha, conforme decisão da Diocese de Campinas.

No entanto o novo sacerdote caiu na antipatia do povo pelas suas infelizes e agressivas pregações. O Jornal "O Comercio de Itapira", comprou a briga a favor do povo e do cônego Amorim passando a defendê-lo.Verdadeiros duelos clericais foram travados entre acusados e acusadores através da mídia escrita da época.Após muita roupa suja lavada em público o cônego Manuel Carlos de Amorim Correa funda, aos 30 de Janeiro de 1913 a ICAB (Igreja Católica Apostólica Brasileira.


No dia da fundação foi lavrada uma ata em cujo texto além de negar o Primado Pontífice Romano, a hierarquia dos bispos, a confissão auricular, o celibato eclesiástico, negou também os fundamentos de ter o Papa romano autoridade para conceder indulgências, títulos nobiliárquicos, a infalibilidade do Sumo Pontífice e o uso da língua latina em todas as cerimônias da igreja. Essa decisão rendeu-lhe a excomunhão.

Era o sonho de Padre Antônio Feijó tornando-se realidade.

Todavia, este sonho, pelo menos com o Cônego Amorim, teria fim. Em 30 de janeiro de 1913, vitimado por uma gripe, Amorim foi envenenado, por um farmacêutico. A este farmacêutico, de acordo com inquérito policial da época, seria lhe garantida a educação gratuita de duas filhas, em colégios da Igreja Católica Romana, e o recebimento de 10 contos de réis. A ele e os mandantes do crime nada ocorreu.

Havia também um problema religioso na questão de Amorim. Ele não era bispo, não possuía o que denominamos de Sucessão Apostólica. Assim, como que uma insistência divina, um bispo católico romano separou-se do Vaticano e fundou uma Igreja Nacional: Dom Carlos Duarte da Costa.

Carlos Duarte da Costa (1888 —1961) foi um bispo católico excomungado pela Santa Sé e, posteriormente, fundador da Igreja Católica Apostólica Brasileira. Dom Carlos Duarte da Costa, o "Bispo de Maura"

Em 1897, aos nove anos, seu tio Bispo de Goiás, enviou-o a Roma para estudar no Colégio Internato Pio-Latino Americano.

Retornou ao Brasil e estudou no Seminário Filosófico e Teológico em Uberaba, ordenado padre no dia 1º de abril de 1911, pelo Cardeal Dom Joaquim Arcoverde.
Foi pároco em várias igrejas no Rio de Janeiro e em 1923 foi nomeado Vigário Geral da Arquidiocese do Rio de Janeiro.


Em 1924 o Papa Pio XI nomeou Dom Carlos como o segundo bispo da Diocese de Botucatu, sendo sagrado bispo pelo cardeal Dom Sebastião Leme.

Dom Carlos foi um bispo polêmico: defendia o divórcio sob algumas condições, a abolição do celibato, a missa em Português e o padre voltado de frente para a assembléia, uma participação maior da comunidade, a criação de uma Conferência de Bispos que expressasse a igreja nacional e uma participação dos padres na vida secular, passando pelo abandono de clericalismos como o uso da batina e tonsura.
Este envolvimento de Dom Carlos com questões sociais e políticas chegou ao extremo. Em 1932 organizou o "batalhão do Bispo" para lutar na Revolução Constitucionalista contra Getúlio Vargas. Acabou preso. Foi transferido de algemas para o Rio de Janeiro. Por causa de pressões internacionais encabeçadas pelo presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt e pelo primeiro-ministro britânico Winston Churchill fizeram que o governo federal libertassem-no.


Caberia agora à Igreja Católica vigiar o “bispo de Maura”, título honorário que recebera uma diocese extinta no Norte da África.


Continuou Dom Carlos, mesmo livre da prisão, sua crítica ao regime de Getúlio Vargas e da aliança do Vaticano com os regimes totalitários. Também iniciou a pregar contra a doutrina da infalibilidade Papal, manter uma atitude liberal quanto ao divórcio e a liberdade para os clérigos se casarem.

Em 1945 Dom Carlos denunciou uma suposta Operação Odessa, que afirmou ter sido organizada pelo Vaticano para permitir a fuga de oficiais nazistas. Após isso, que mostrou-se um estopim para que viesse punição mais severa para o dissidente bispo, o Papa Pio XII excomungou-o.
D. Carlos ignorou a excomunhão e, em 06 de julho, fundou a Igreja Católica Apostólica Brasileira. Dom Carlos ordenou como bispo, um mês depois, a Dom Salomão Barbosa Ferraz, que uniu sua igreja com a Igreja Católica Apostólica Brasileira.
Após sua morte, os ideais de uma Igreja Nacional continuam a existir.

                       Texto retirado do blog:
              http://catolicobrasil.blogspot.com.br/ 












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